A química explica: hormônios, feromônios, essas coisas. A psicanálise nos fala em projeções, transferências, essas coisas. Algo que lembra o pai, algo que lembra o que a família valoriza, algo que lembra o que um dia busquei... sei lá: encantamento!
é um estado que se deve valorizar!!
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Mais um rascunho e uma pista de que eu definitivamente sou incorrigível, como diz minha grande e velha amiga Naná. Não que ela seja velha, nossa amizade é que é antiga. Não sejamos etaristas.
No entanto - era um estado de encantamento - e eu estava ou me sentia enfeitiçada. Caí na cilada, saltei no precípicio e não tinha instrumentos suficientes para amortecer a queda. Sobrevivi por teimosia. Tornei-me, depois disso, bem menos incauta.
Minha atual analista sugere que eu mergulhe na leitura de Eros e Psiquê. Tantas vezes já visitei a trajetória mitológica deste casal que hoje denomino um tanto quanto heteronormativo demais, eurocentrico demais, branco demais. Ando achando-os meio blasè. Ou blasè sou eu com este tipo de pensamento rotulador. A ANAlista me disse que estes arquétipos transcendem culturas, algo assim. Estou refletindo sobre isso. Sinto vontade, ultimamente, de buscar outras referências sobre amor. O que nos contam a diversidade de mitos dos povos africanos dos povos indígenas a respeito do amor. De qualquer forma, creio que de lá pra cá avancei.
O que na época eu não me dei conta é que a psicanálise também fala dos sintomas que se conectam. Só depois de sintoma repetindo abrindo as portas do trauma é que olhei pra isso.
quarta-feira, 6 de setembro de 2023
O silêncio quer ser silêncio e não consegue.
Silêncio é ausência e repouso.
(um texto inacabado, talvez para me lembrar que sempre é tempo de buscar o silêncio. Tão antiga quanto atual a minha necessidade de silêncio)
Neste ano de 2023, passo uma temporada no Pará. Eita povo animado, povo que dança e seus males espanta. Juro que uma festa de Carimbó (com letra maiúscula)vale por dez sessões de terapias. Alerta - não as substitua, terapia sempre! As guitarradas, o reggae, o tecnomelody, as aparelhagens, tudo isso compõe um universo sonoro incrível. Confesso que a sulista ranzinza que me habita (juro que não sou só isso) às vezes se irritava com as caixas de som no volume máximo em todos os lugares no final de semana e secretamente rotulava esses festeiros como "inimigos do silêncio". Me perdoem amizades paraenses. Confesso, também, que às vezes sinto saudade desta animação toda quando passo nos bares na calçada de Porto Alegre e vejo todo mundo duro, sentado, fumando que nem chaminé. Outro dia, numa festinha, uma amiga paraense me disse ao pé do ouvido enquanto observava a pequena platéia comportada, sentadinha, assistindo um show: se fosse no Pará, ninguém tava desse jeito. Faço as pazes com o barulhos festivos, viva a alegria dos encontros e das celebrações.
Acordei hoje com um caminhão de entrega de algum comércio vizinho vomitando poluição sonora e resíduos de combustíveis fósseis da minha janela. Que saudade dos galos cantando e dos sabiás anunciando cada vez mais cedo - nas madrugadas e nas temporadas - a primavera!/div>
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
Mulher árvore - ou a arte do refazer-se.
Clarissa Pinkola:
“Toda mulher parece com uma árvore. Nas camadas mais profundas de sua alma ela abriga raízes vitais que puxam a energia das profundezas para cima, para nutrir suas folhas, flores e frutos. Ninguém compreende de onde uma mulher retira tanta força, tanta esperança, tanta vida. Mesmo quando são cortadas, tolhidas, retalhadas, de suas raízes ainda nascem brotos que vão trazer tudo de volta à vida outra vez.”
As antigas artes de curar exigem disposição, intuição, magia e contato com saberes ancestrais.
Somos herdeiros destes conhecimentos antigos, advindo de pessoas que liam o livro do mundo, cujos pés trilhavam a própria realidade.
Reverencio minhas ancestrais: parteiras, curandeiras, agricultoras, artesãs, costureiras, lenhadoras, lavadeiras das encostas e barrancas de rios caudalosos, açudes, lajeados ou igarapés. Estas mulheres que salvavam vidas (mas também poderia acabar com alguma, se quisessem ou fosse necessário). Mulheres que enfeitavam as casas com as flores colhidas no jardim por elas cultivados. Criativas e sofridas, aprendiam a sapiência das árvores no seu refazimento após queimadas, enchentes ou tempestades violentas.Ou após a perda de um filho, da mãe, do pai, do irmãos, de tantos vizinhos e amigos que se iam. Abatidas, não deixavam de acender o fogo e aquecer as manhãs brancas cobertas de geadas nos invernos de suas vidas. Muito aprendi com elas, simplesmente por existirem. Muito ainda quero aprender com elas para me compreender melhor, para continuar me refazendo, como árvores que mesmo quando são podadas, vertem verdes em galhos aparentemente sem vida.
Certa vez, numa dessas encruzilhadas da vida que me deixaram literalmente sem chão, ou temporariamente sem um teto, me vi assustada, com uma filha com menos de 5 anos, uma depressão tomando conta e aquela velha sensação de desamparo alastrando em mim tal qual erva daninha em um jardim descuidado. Tantos deslocamentos: roseira sem folhas nem jardim, beija-flor sem bico, ninho caído, ovinhos espalhados, um gatuno à espreita... dos ovos, fiz omelete. Eram fofíssimos ovos de beija-flor, mas eu precisava nos alimentar.
Deste tempo, aprendi várias lições: o tempo ameniza tudo, o perdão liberta. E ambos, juntos, curam. E vieram novas vivências e outras feridas foram abertas. Ou a velha cicatriz ainda incomodava. A sensação iminente de desamparo, o gatuno à espreita.
Mas, aí, vieram novas lições, outros aprendizados.
Talvez, a vida de toda a mulher seja isso: camadas e camadas e mais camadas de tecidos que vão nos desnudando a cada nova ferida. Cicatrizes podem ter ou ser quelóides.Às vezes, precisam ser extirpadas com o bisturi para realmente ficarem como marcas, sinais de que algo aconteceu ali, mas que já não compromete mais o funcionamento e a fluidez do corpo.
Nossos velhos tecidos são como as cascas das árvores: ao se perder, se refazem. E ao se refazer, brotam novas possibilidades. Quanto mais nossas raízes aprofundam-se no âmago da terra, tanto mais temos energia para este refazimento.
domingo, 23 de janeiro de 2011
Sobre Separações
Há mulheres que, quando se separam, desabrocham feito flor em botão que demorou a se abrir porque havia muita sombra. O homem que estava com ela emcobria-lhe a luz. Assim, se afastando, ela desabrocha e, faceira flor, dirige sua corola para o sol.
Há homens que, enquanto elas desabrocham, brocham.
Há também mulheres que quando se separam, murcham. Se havia flor em botão ou botão em flor, cai. Se havia um beija-flor, um gato malvado devora-lhe o biquinho.
E há homens que, enquanto suas ex-mulheres murcham de tanto chorar, eles gozam a liberdade e fartam-se de novo, em êxtase total.
Há homens e mulhers que nem murcham nem desabrocham, continuam sendo o que eram, um tanto mais livres, um tanto mais solitários.
Há homens que, enquanto elas desabrocham, brocham.
Há também mulheres que quando se separam, murcham. Se havia flor em botão ou botão em flor, cai. Se havia um beija-flor, um gato malvado devora-lhe o biquinho.
E há homens que, enquanto suas ex-mulheres murcham de tanto chorar, eles gozam a liberdade e fartam-se de novo, em êxtase total.
Há homens e mulhers que nem murcham nem desabrocham, continuam sendo o que eram, um tanto mais livres, um tanto mais solitários.
domingo, 5 de dezembro de 2010
Meu mais novo destino é o vento
Telúrica, a estabilidade que me constitui é aquela dos terremotos.
Contida, como água em represa estancada pronta para inundar territórios
Cachoeira, território de Oxum, barulhinho bom nos montes verdes.
Contida, como água em represa estancada pronta para inundar territórios
Cachoeira, território de Oxum, barulhinho bom nos montes verdes.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Da Felicidade
Ontem, asistindo ao filme argentino "Dois irmãos", quedei a refletir sobre a felicidade. Num determinado momento do enredo, Marcos (divertido e leve persona), ao recordar seu passado,e postula a frase que grudou na minha memória: "a felicidade acaba".
Não quero aqui elucubrar sobre o que é ser feliz ou que é a felicidade. A propósito disso, lembro sempre de um aforismo de Benjamin, em Rua de Mão Ùnica: ser feliz é tomar consciência de si mesmo sem susto. Sem dúvida, esta frase acompanha-me como uma verdade no decorrer dos anos. Refiro-me simplesmente a felicidade enquanto algo que sinto e que quando ausente, sinto falta. Como na canção do roqueiro Wander Wildner “eu não consigo ser alegre o tempo inteiro”, mas também não sou inteiramente triste.
Não quero aqui elucubrar sobre o que é ser feliz ou que é a felicidade. A propósito disso, lembro sempre de um aforismo de Benjamin, em Rua de Mão Ùnica: ser feliz é tomar consciência de si mesmo sem susto. Sem dúvida, esta frase acompanha-me como uma verdade no decorrer dos anos. Refiro-me simplesmente a felicidade enquanto algo que sinto e que quando ausente, sinto falta. Como na canção do roqueiro Wander Wildner “eu não consigo ser alegre o tempo inteiro”, mas também não sou inteiramente triste.
As frases internas que elucubrei durante o filme gravitaram em torno da constatação: sim, felicidade acaba. Mas felicidade começa também. Ela nunca é a mesma, seu retorno passa por aquele assombro e aquele medo inerente que o acompanha1, talvez um prenúncio de que ela realmente vai chegar, ficar um tempo e ir embora, porque somos efêmeros, finitos. Há o movimento incessante que transforma a tudo, como as pedras a rolar vão sendo esculpidas através do tempo, como as areias que movimentam-se e deixam a paisagem das dunas sempre maleáveis ao ritmo do vento, como as margens de um rio modificam-se entre cheias e secas.
A felicidade é hóspede discreto - já constatava o sábio Mario Quintana - do qual só se constata a presença quando está de partida.
Velho Mário, ouso te desafiar: não seria também a felicidade como um hóspede anunciado, que a cidade toda aguarda, com homenagens e agrados, como foi na semana passada a vinda do Paul a Porto Alegre??
A felicidade é passageira, como hóspede que vai, mas quantos hóspedes não mudaram os rumos de suas vida após uma parada e se foram cheios de saudade querendo retornar e tornar o passageiro definitivo?
Mário, a felicidade acaba sim, porque não somos eternos, mas a felicidade também começa. E permanece tempo suficiente para dar significado a vida e tornar-se memória.
Há felicidades findas e há felicidades bem-vindas!
Bem-vinda é a Felicidade que se anuncia como os primeiros sinais da primavera em aromas, sons e cores. Confesso que não quero morrer carregando o peso desta anunciação não efetivada em ato. Sei que ela existe, está por aí desejando ser vivida. Cabe procurá-la, esquecendo de que se está buscando, como quando desistimos de procurar um objeto perdido e ele simplesmente aparece enquanto estamos ocupados ou distraídos fazendo outra coisa.
Enquanto me distraio com esta felicidade que acaba, acabo encontrando a felicidade que começa, e que, atualizada, é bem maior do que o longínquo navio no horizonte.
1Há uma cena linda no filme “As Horas” que retrata esta ideia da felicidade como um assombro, terei que rever o filme para narrá-la, porque tal foi o impacto que virou ideia sem imagem nem palavra, perdeu-se na imensidão virtual de algum lugar em mim
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Da Felicidade (Mário Quintana, de novo)
Quantas vezes a gente,em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão,por toda parte,os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
PS."Somente aquele que conhece a tristeza sabe reconhecer a felicidade." frase de Gibran.
Assombros
ASSOMBROS
Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.
Fora, não se dão conta os desatentos.
Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.
Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.
Affonso Romano de Sant'Anna (Lado Esquerdo do Meu Peito)
Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.
Fora, não se dão conta os desatentos.
Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.
Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.
Affonso Romano de Sant'Anna (Lado Esquerdo do Meu Peito)
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
PRECIOSA
O filme "Preciosa" não se enquadra no gênero "baseado numa história real" tão em voga nos últimos tempos.Preciosa é uma jovem adolescente negra, obesa, violada, pobre...
É uma ficção baseada numa ficção. No entanto, espelha a vida e a alma de muitas e muitas jovens reais que tiveram suas infâncias torturadas pelo abuso sexual.
É duro saber que isso é real, que existem tantas meninas-mulheres subjugadas, violentadas por aqueles que deveriam amá-las. Ou poderiam amá-las. Onde falta amor, sobra violência.
É um círculo vicioso: pais abusadores, filhos abusados, adultos marcados, violência multiplicada.
É uma ficção baseada numa ficção. No entanto, espelha a vida e a alma de muitas e muitas jovens reais que tiveram suas infâncias torturadas pelo abuso sexual.
É duro saber que isso é real, que existem tantas meninas-mulheres subjugadas, violentadas por aqueles que deveriam amá-las. Ou poderiam amá-las. Onde falta amor, sobra violência.
É um círculo vicioso: pais abusadores, filhos abusados, adultos marcados, violência multiplicada.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Saudosa Senzala
Saudosa Senzala -
Diana Corso - psicanalista e escritora
O Brasil mudou muito nesses últimos anos, e nem todos prestamos atenção ou nos demos conta, para bem ou para mal não somos os mesmos.
...
Especialmente as classes C e D são as novas protagonistas num país que não estava acostumado com isso, agora elas compram, estão mais visíveis. Pequenos detalhes, como ter um telefone que era caro e difícil, hoje é barato e banal, estão acessíveis a geladeira nova, a TV maior, o trânsito está entupido por novos carros. Prestações e carnês enchem as lojas e esvaziam as prateleiras.
...
Entre os irritados com a conjuntura atual, encontram-se alguns economistas que, em seus termos misteriosos, fazem previsões de que pagaremos caro pelos dias de fartura. Sei lá, sou ignorante de suas sabedorias.
...
Mas há outro tipo de gente incomodada com a situação atual, e esses, sim, me exasperam: são os viúvos do sistema de castas, que tinham um sem-número de pobres à mercê de suas roupas velhas, pequenas esmolas e favores de senhor da casa-grande. Essa senzala invisível está sendo erradicada do coração dos mais humildes, mas sobrevive na memória recente dos mais abastados e não é fácil abrir mão dela.
...
A diferença social fazia de qualquer remediado de classe média um senhor feudal, sua vida era mais admirável, seus bens mais reluzentes, seus filhos mais promissores. Hoje, o filho de uma empregada doméstica pode disputar vaga na universidade federal com o da patroa que estudou em escolas caras, graças ao sistema de cotas, o que enche esta última de indignação, e ambas podem ter o mesmo modelo de celular.
...
Mesmo entre os intelectuais, uma miséria digna e consciente lhes parece mais atraente do que essas novas hordas de entusiastas consumidores, de quem lamentam a banalidade de horizontes.
...
Um ser humano se torna o que é porque outro lhe faz espelho, contraponto. A miséria de uns auxilia a que a imagem de outros pareça mais faustosa, são papéis que se complementam. Melhores índices de qualidade de vida em um país, portanto, não têm motivo para agradar a todos, mesmo que seja por motivos inconfessáveis, inconscientes.
...
Estamos muito longe da igualdade social com que sempre sonhei, mas esse novo quadro, aliado ao fato de que os candidatos mais importantes neste pleito são oriundos das fileiras da luta contra a ditadura, me deixa de bom humor. Gosto de ver a política viva, embora ela costume aparecer apenas trajada de escândalos, prefiro-a paramentada de promessas.
Além disso, nunca esqueço que as eleições diretas foram uma árdua conquista, por isso, elas ainda me produzem certa emoção, simplesmente por existirem.
Artigo de Diana Corso, Publicado em 29/09/2010 na pagina 2 da Zero Hora
Diana Corso - psicanalista e escritora
O Brasil mudou muito nesses últimos anos, e nem todos prestamos atenção ou nos demos conta, para bem ou para mal não somos os mesmos.
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Especialmente as classes C e D são as novas protagonistas num país que não estava acostumado com isso, agora elas compram, estão mais visíveis. Pequenos detalhes, como ter um telefone que era caro e difícil, hoje é barato e banal, estão acessíveis a geladeira nova, a TV maior, o trânsito está entupido por novos carros. Prestações e carnês enchem as lojas e esvaziam as prateleiras.
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Entre os irritados com a conjuntura atual, encontram-se alguns economistas que, em seus termos misteriosos, fazem previsões de que pagaremos caro pelos dias de fartura. Sei lá, sou ignorante de suas sabedorias.
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Mas há outro tipo de gente incomodada com a situação atual, e esses, sim, me exasperam: são os viúvos do sistema de castas, que tinham um sem-número de pobres à mercê de suas roupas velhas, pequenas esmolas e favores de senhor da casa-grande. Essa senzala invisível está sendo erradicada do coração dos mais humildes, mas sobrevive na memória recente dos mais abastados e não é fácil abrir mão dela.
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A diferença social fazia de qualquer remediado de classe média um senhor feudal, sua vida era mais admirável, seus bens mais reluzentes, seus filhos mais promissores. Hoje, o filho de uma empregada doméstica pode disputar vaga na universidade federal com o da patroa que estudou em escolas caras, graças ao sistema de cotas, o que enche esta última de indignação, e ambas podem ter o mesmo modelo de celular.
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Mesmo entre os intelectuais, uma miséria digna e consciente lhes parece mais atraente do que essas novas hordas de entusiastas consumidores, de quem lamentam a banalidade de horizontes.
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Um ser humano se torna o que é porque outro lhe faz espelho, contraponto. A miséria de uns auxilia a que a imagem de outros pareça mais faustosa, são papéis que se complementam. Melhores índices de qualidade de vida em um país, portanto, não têm motivo para agradar a todos, mesmo que seja por motivos inconfessáveis, inconscientes.
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Estamos muito longe da igualdade social com que sempre sonhei, mas esse novo quadro, aliado ao fato de que os candidatos mais importantes neste pleito são oriundos das fileiras da luta contra a ditadura, me deixa de bom humor. Gosto de ver a política viva, embora ela costume aparecer apenas trajada de escândalos, prefiro-a paramentada de promessas.
Além disso, nunca esqueço que as eleições diretas foram uma árdua conquista, por isso, elas ainda me produzem certa emoção, simplesmente por existirem.
Artigo de Diana Corso, Publicado em 29/09/2010 na pagina 2 da Zero Hora
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Aforismo - parafraseando Camus
As noites de setembro tem "perfume de águas e de estrelas", cujos caminhos aromáticos entre as árvores de pitanga e laranjeira são "sinais de amor para quem é forçado a ser só".
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
o que há de fundamental em mim
"Quando procuro o que há de fundamental em mim, é o gosto da felicidade que eu encontro."Albert Camus
admito que erro, acerto o passo: sou capaz!!!
O que há de fundamental em mim
é o que me faz ser eu mesma:
única, singular, inigualável.
Neste sofrimento de ser eu
encontro a alegria da minha verdade,
às vezes esquecida, outras sufocadas.
Produto de sonho, desejo e coragem,
sou desvelamento em atitude, contradição,
paradoxo e construção.
E não tenho medo, vergonha de voltar atrás.admito que erro, acerto o passo: sou capaz!!!
O Rebelde
As pessoas têm muito medo daqueles que conhecem a si mesmos. Estes têm um certo poder, uma certa aura e um certo magnetismo, um carisma capaz de libertar os jovens, ainda cheios de vida, do aprisionamento tradicional...
O homem iluminado não pode ser escravizado -- este é o problema -- e não pode ser feito prisioneiro... Todo gênio que tenha conhecido um pouco do seu íntimo está fadado a ser um pouco difícil de ser absorvido: ele deverá ser uma força perturbadora. As massas não querem ser perturbadas, ainda que se encontrem na miséria; estão na miséria, mas estão acostumadas com isso, e qualquer um que não seja um miserável parece um estranho.
O homem iluminado é o maior forasteiro do mundo; ele parece não pertencer a ninguém. Nenhuma organização consegue confiná-lo, nenhuma comunidade, nenhuma sociedade, nenhuma nação.
Osho The Zen Manifesto: Freedom from Oneself Chapter 9
Comentário:
A figura de poder e autoridade desta carta é, visivelmente, de alguém que é senhor do seu próprio destino. Em seu ombro, há uma representação do sol, e a tocha que ele segura na mão direita simboliza a luz da sua própria verdade, arduamente conquistada.
Rico ou pobre, o Rebelde é de fato um imperador, porque quebrou as correntes do condicionamento repressivo e das opiniões da sociedade. Ele deu forma a si mesmo abraçando todas as cores do arco-íris, aflorando das raízes obscuras e amorfas de seu passado inconsciente, e criando asas para voar para o céu. A sua própria maneira de ser é rebelde -- não porque esteja lutando contra alguém ou contra qualquer coisa, mas porque ele descobriu a sua própria natureza verdadeira e está determinado a viver de acordo com ela. A águia é o animal com o qual se afina espiritualmente, um mensageiro entre a terra e o céu.
O Rebelde nos desafia a ser suficientemente corajosos para assumir responsabilidade por quem somos, e para viver a nossa verdade.
O homem iluminado não pode ser escravizado -- este é o problema -- e não pode ser feito prisioneiro... Todo gênio que tenha conhecido um pouco do seu íntimo está fadado a ser um pouco difícil de ser absorvido: ele deverá ser uma força perturbadora. As massas não querem ser perturbadas, ainda que se encontrem na miséria; estão na miséria, mas estão acostumadas com isso, e qualquer um que não seja um miserável parece um estranho.
O homem iluminado é o maior forasteiro do mundo; ele parece não pertencer a ninguém. Nenhuma organização consegue confiná-lo, nenhuma comunidade, nenhuma sociedade, nenhuma nação.
Osho The Zen Manifesto: Freedom from Oneself Chapter 9
Comentário:
A figura de poder e autoridade desta carta é, visivelmente, de alguém que é senhor do seu próprio destino. Em seu ombro, há uma representação do sol, e a tocha que ele segura na mão direita simboliza a luz da sua própria verdade, arduamente conquistada.
Rico ou pobre, o Rebelde é de fato um imperador, porque quebrou as correntes do condicionamento repressivo e das opiniões da sociedade. Ele deu forma a si mesmo abraçando todas as cores do arco-íris, aflorando das raízes obscuras e amorfas de seu passado inconsciente, e criando asas para voar para o céu. A sua própria maneira de ser é rebelde -- não porque esteja lutando contra alguém ou contra qualquer coisa, mas porque ele descobriu a sua própria natureza verdadeira e está determinado a viver de acordo com ela. A águia é o animal com o qual se afina espiritualmente, um mensageiro entre a terra e o céu.
O Rebelde nos desafia a ser suficientemente corajosos para assumir responsabilidade por quem somos, e para viver a nossa verdade.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Cinema
Os meus critérios para gostar ou não de um filme não são muito exigentes. Em geral, é preciso não ter como principal atributo o tripé "velocidade, tiros e explosões". Eu jamais ficaria na frente da TV para assistir Velozes e Furiosos.
Embora saiba que a narração está em franco declínio, junto com a decadência da experiência (BENJAMIN), gosto de histórias que possam ser contadas, que sirvam de lição, como um provérbio, um conto , uma parábola. O cinema é uma arte tão vasta, com tantas possibilidades e me encanta esta faceta da possibilidade da narrativa, de contar histórias para milhões de pessoas, Uma história que comova, sensibilize, indigne, que traga um tempo de beleza para a vida, um espaço de diversão aliada a reflexão.
Sei também que a indústria cultural exerce um fascínio anestesiante sobre as massas, desprovidas de crítica, simplesmente funcionando na lógica do mercado. Mesmo assim, me rendo as histórias que contam histórias, que marcam como metáfora. Que expressam algo que marca, de alguma forma, como insígnia de um tempo de nossas vidas, um aprendizado que levamos até os dias finais. Cito o antigo e inesquecível: "A Excêntrica família de Antônia" (1995) e o musical: "The Wall". Recentemente: "A vida secreta das palavras", "O segredo dos seus olhos".
Embora saiba que a narração está em franco declínio, junto com a decadência da experiência (BENJAMIN), gosto de histórias que possam ser contadas, que sirvam de lição, como um provérbio, um conto , uma parábola. O cinema é uma arte tão vasta, com tantas possibilidades e me encanta esta faceta da possibilidade da narrativa, de contar histórias para milhões de pessoas, Uma história que comova, sensibilize, indigne, que traga um tempo de beleza para a vida, um espaço de diversão aliada a reflexão.
Sei também que a indústria cultural exerce um fascínio anestesiante sobre as massas, desprovidas de crítica, simplesmente funcionando na lógica do mercado. Mesmo assim, me rendo as histórias que contam histórias, que marcam como metáfora. Que expressam algo que marca, de alguma forma, como insígnia de um tempo de nossas vidas, um aprendizado que levamos até os dias finais. Cito o antigo e inesquecível: "A Excêntrica família de Antônia" (1995) e o musical: "The Wall". Recentemente: "A vida secreta das palavras", "O segredo dos seus olhos".
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