Ontem, asistindo ao filme argentino "Dois irmãos", quedei a refletir sobre a felicidade. Num determinado momento do enredo, Marcos (divertido e leve persona), ao recordar seu passado,e postula a frase que grudou na minha memória: "a felicidade acaba".
Não quero aqui elucubrar sobre o que é ser feliz ou que é a felicidade. A propósito disso, lembro sempre de um aforismo de Benjamin, em Rua de Mão Ùnica: ser feliz é tomar consciência de si mesmo sem susto. Sem dúvida, esta frase acompanha-me como uma verdade no decorrer dos anos. Refiro-me simplesmente a felicidade enquanto algo que sinto e que quando ausente, sinto falta. Como na canção do roqueiro Wander Wildner “eu não consigo ser alegre o tempo inteiro”, mas também não sou inteiramente triste.
Não quero aqui elucubrar sobre o que é ser feliz ou que é a felicidade. A propósito disso, lembro sempre de um aforismo de Benjamin, em Rua de Mão Ùnica: ser feliz é tomar consciência de si mesmo sem susto. Sem dúvida, esta frase acompanha-me como uma verdade no decorrer dos anos. Refiro-me simplesmente a felicidade enquanto algo que sinto e que quando ausente, sinto falta. Como na canção do roqueiro Wander Wildner “eu não consigo ser alegre o tempo inteiro”, mas também não sou inteiramente triste.
As frases internas que elucubrei durante o filme gravitaram em torno da constatação: sim, felicidade acaba. Mas felicidade começa também. Ela nunca é a mesma, seu retorno passa por aquele assombro e aquele medo inerente que o acompanha1, talvez um prenúncio de que ela realmente vai chegar, ficar um tempo e ir embora, porque somos efêmeros, finitos. Há o movimento incessante que transforma a tudo, como as pedras a rolar vão sendo esculpidas através do tempo, como as areias que movimentam-se e deixam a paisagem das dunas sempre maleáveis ao ritmo do vento, como as margens de um rio modificam-se entre cheias e secas.
A felicidade é hóspede discreto - já constatava o sábio Mario Quintana - do qual só se constata a presença quando está de partida.
Velho Mário, ouso te desafiar: não seria também a felicidade como um hóspede anunciado, que a cidade toda aguarda, com homenagens e agrados, como foi na semana passada a vinda do Paul a Porto Alegre??
A felicidade é passageira, como hóspede que vai, mas quantos hóspedes não mudaram os rumos de suas vida após uma parada e se foram cheios de saudade querendo retornar e tornar o passageiro definitivo?
Mário, a felicidade acaba sim, porque não somos eternos, mas a felicidade também começa. E permanece tempo suficiente para dar significado a vida e tornar-se memória.
Há felicidades findas e há felicidades bem-vindas!
Bem-vinda é a Felicidade que se anuncia como os primeiros sinais da primavera em aromas, sons e cores. Confesso que não quero morrer carregando o peso desta anunciação não efetivada em ato. Sei que ela existe, está por aí desejando ser vivida. Cabe procurá-la, esquecendo de que se está buscando, como quando desistimos de procurar um objeto perdido e ele simplesmente aparece enquanto estamos ocupados ou distraídos fazendo outra coisa.
Enquanto me distraio com esta felicidade que acaba, acabo encontrando a felicidade que começa, e que, atualizada, é bem maior do que o longínquo navio no horizonte.
1Há uma cena linda no filme “As Horas” que retrata esta ideia da felicidade como um assombro, terei que rever o filme para narrá-la, porque tal foi o impacto que virou ideia sem imagem nem palavra, perdeu-se na imensidão virtual de algum lugar em mim
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Da Felicidade (Mário Quintana, de novo)
Quantas vezes a gente,em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão,por toda parte,os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
PS."Somente aquele que conhece a tristeza sabe reconhecer a felicidade." frase de Gibran.
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