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elementar - conjugação de terra, água, fogo e ar

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Vale da Utopia

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Destino

não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino
Paulo Leminski

Naquela noite de primavera, a lua era um chamado para o desconhecido. Foi sem receio ao encontro do destino que desenharia, gesto por gesto, como uma pintura de Pollock, letra por letra, como um haicai do Leminski, cena por cena, como o filme de Amelie.
Não tinha, ainda, a convicção de que o destino é produto de escolhas.
A única certeza - intuitiva - que tinha: mesmo as escolhas mais racionais são atravessadas pelas imprevisões do acaso.
Não teve medo do fogo, não teve medo da água.
Queimou-se por inteira, prendeu o ar e mergulhou.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Receita de Ano novo


mais um ano termina
novamente verão.
tudo novo de novo,
como diz a canção.

planos, desejos, metas
novo caos em linhas retas.
um brinde aos poetas!!!


Receita de Ano Novo

Carlos Drumond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Escambo no 512




Fotos: Carolina kazue

"Se você tem uma laranja e troca com outra pessoa
que também tem uma laranja, cada um fica com uma laranja.
Mas se você tem uma idéia e troca com outra pessoa
que também tem uma idéia, cada um fica com duas." (Confúcio)

Domingo a tarde, calor infernal, 20/12, véspera de véspera de natal. Período confuso: as sensibilidades em geral oscilam entre a alegria (pelos reencontros, pelas trocas de presentes, pelas festas) e a tristeza (pelas hipocrisias dos encontros, pelo consumo exarcebado, pelas contradições da nossa cultura, pelas ausências ). Mas que tal fazer algo diferente, divertido, cultural, solidário e sustentável?
Neste domingo a tarde o tédio foi para o escambal porque fizemos um divertidíssimo ESCAMBO(1)!!
A idéia foi da Bina, Dani & Cia: CARIDARTE - unir o útil ao agradável, dispensar o fútil e tornar o que é bom melhor ainda: trocar e trocar e doar! No 512, o bar mais freqüentado e elogiado da Cidade Baixa pelos amigos e os amigos dos amigos.
Talentos revelados e desvelados: a Bina dançou, a Dani cantou, a Kazue expôs suas fotos. Teve poesia nas paredes (gostou? pega pra ti!), cerveja gelada nos copos, a mulherada tagalerando e trocando sob os olhares e ouvidos atentos dos homens. Teve quem quis trocar elogios e discussões bem-humoradas (e alfinetadas) sobre para quem as mulheres se vestem. Teve quem se deu bem trazendo para casa a satisfação de ter conseguido a blusa, a saia, o calçado, o casaco ou o vestido e, ainda, de brinde, ter conhecido pessoas interessantes.
Segundo o Feng Shui, coisas paradas em nossas casas deixam a energia acumulada, atravancando caminhos, impedindo que as coisas fluam.
Segundo a economia mundial, escambos são alternativas a crise econômica e práticas de troca são adotadas em vários cantos do globo.
E, segundo a ecologia? Excesso de consumo, excesso de lixo, excesso de tudo que destrói e falta de bom senso, de racionalidade, de responsabilidade com PACHA MAMA, nossa casa, nosso lar.
Nesses nossos tempos líquidos e sombrios, promover alternativas interessantes e afirmativas que evitem o consumo, promovam a troca e a sustentabilidade, é digno de celebrar.
E foi isso que fizemos ontem: celebramos e confraternizamos ao som de boa música, conversas espirituosas e trocas, muitas trocas.
Parabéns a Bina que teve a idéia, a Dani e a Kazue e a todos que acreditaram, participaram. Parabéns a galera do 512 por ter cedido o espaço e participado também.
Eu voltei pra casa feliz da vida com a saia da Lia que troquei pelo meu vestido indiano com a saia da moça que a lia queria (ela queria a saia,não a moça). E com a sapatilha vermelha que era da Tita que ficou com bota que a Leda me deu mas não me servia. E pequena princesa ficou mais linda do que já é com a coroa que era da Tatá.
E, certamente, as pessoas que receberem as doações de alimentos e roupas também ficarão bem felizes.

(1)A palavra escambo é utilizada quando existe uma troca de mercadorias ou serviços entre as partes envolvidas sem a utilização do dinheiro.


Valores do seculo XXI

QUINO







































































domingo, 13 de dezembro de 2009

Bailas???


Eu só acreditaria num deus que soubesse dançar.

Friedrich Nietzsche

Mafaldices

A Mafalda já entendia e sentia a condição da urgente brevidade da moderna condição humana. A Mafalda faz análises perspicazes, mas é divertida e faz a gente rir, diferente do Bauman que até agora não apontou uma só perspectiva. Só crítica, análise, etc. talvez eu tenha esta tendência messiânica de acreditar que um outro mundo é mesmo possível. Aliás, não só possível como necessário.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Gracias a la Vida!!


"Quero ser feliz um pouco a cada dia" disse a sábia e sensível mulher que faz circular as coisas acumuladas nas casas atrolhadas das pessoas consumistas (ela é dona de um brechó, bem pertinho da minha casa, que a amiga vinda de Floripa me apresentou).
É isso aí: ser feliz a cada dia um pouquinho é bem melhor do que projetar uma grande felicidade no porvir. Saber ser feliz é se contentar com a flor que desabrochou, com a espontaneidade da criança, com o aroma do chá, com a visita das amigas, com o ano novo lá no mato, com a saudade que vamos sufocar de tanto abraço. Lembro disso e agradeço todos os dias por respirar, por estarem aqui os que amo, embora a ausência dos que já foram.
E, embora a saudade e o luto por meu pai, embora a desigualdade e injustiças que assolam, a política que oprime e as perspectivas escassas, embora "o pão seja caro e a liberdade pequena", gracias a la vida.

http://www.youtube.com/watch?v=WyOJ-A5iv5I

Mercedes Sosa - Gracias a La Vida

Hello, stranger!!


O filme "Closer – perto de mais", inicia com uma cena onde dois estranhos encontram-se em meio ao frenético passo da multidão. Hello, stranger - a primeira frase da bela Alice, personagem da atriz israelense Natalie Portman (foto acima). Por uma distração no encontro, a moça é atropelada. E o estranho a socorre.

O que acontece depois? Bauman (ele de novo), descreve o que acontece "quando estranhos se encontram" (é este mesmo o subtítulo):


Na clássica definição de Richard Sennett, uma cidade é “um assentamento humano em que estranhos tem a chance de se encontrar”. Isso significa que estranhos tem chance de se encontrar em sua condição de estranhos, saindo como estranhos do encontro casual que termina de maneira tão abrupta quando começou. Os estranhos se encontram numa maneira adequada a estranhos; um encontro de estranhos é diferente de encontros de parentes, amigos ou conhecidos – parece , por comparação, um “desencontro”. No encontro de estranhos não há uma retomada a partir do ponto em que o último encontro acabou, nem troca de informações sobre as tentativas, atribulações ou alegrias desse intervalo, em lembranças compartilhadas: nada em que se apoiar ou que sirva de guia para o presente encontro. O encontro de estranhos é um evento sem passado. Freqüentemente é também um evento sem futuro (o esperado é que não tenha futuro), uma história para “não ser continuada”, sem adiamento e sem deixar questões inacabadas para outra ocasião. Como a aranha cujo mundo inteiro está enfeixado na teia que ela tece a partir de seu próprio abdome, o único apoio com que estranhos que se encontram podem contar deverá ser tecido do fio fino e solto de sua aparência, palavras e gestos. No momento do encontro não há espaço para tentativa e erro, nem aprendizado a partir dos erros ou expectativa de outra oportunidade. (BAUMAN, Sigmunt. Modernidade Líquida. Tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. Página 111.)

Nem sempre é assim! Seria o filme como um contraponto? Sim e Não.
Sim porque ali os estranhos se encontram e não porque também se desencontram. Sim porque se acham e não porque se perdem. Sim porque se aproximam e não porque se afastam. Sim porque se amam e não porque se ferem, magoam... Tudo isso ao som inicial e final de The Blower's Daughter (Damien Rice).
Eis a sinopse:
Escrito pelo dramaturgo Patrick Marber baseado na sua peça de teatro homônima, o filme encontra em seus quatro atores os tradutores ideais para os dramas criados pelo escritor. Dan (Jude Law, de Alfie) é um escritor de obituários que sonha em ser romancista e se apaixona pela misteriosa Alice (Natalie Portman, de Hora de Voltar). Meses depois ele se envolve com a fotógrafa Anna (Julia Roberts, de Doze Homens e Outro Segredo), e para pregar uma peça arma um encontro com ela e o médico Larry (Clive Owen, de Crupiê - A Vida em Jogo). Mas os dois acabam se apaixonando, para desespero de Dan. Em alguns anos, esse quarteto vai se encontrar, desencontrar, se apaixonar e desapaixonar, deixando marcas e feridas na vida de cada um deles.