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elementar - conjugação de terra, água, fogo e ar

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Vale da Utopia

domingo, 19 de outubro de 2008

vossa majestade , o carro






















O IMPÉRIO DO CONSUMO
Eduardo Galeano
A explosão do consumo no mundo atual faz mais barulho do que todas as
guerras e mais algazarra do que todos os carnavais. Como diz um velho
provérbio turco, aquele que bebe a conta, fica bêbado em dobro. A gandaia
aturde e anuvia o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites
no tempo nem no espaço.
Mas a cultura de consumo faz muito barulho, assim como o tambor, porque
está vazia; e na hora da verdade, quando o estrondo cessa e acaba a festa, o
bêbado acorda, sozinho, acompanhado pela sua sombra
e pelos pratos quebrados que deve pagar. A expansão da demanda se choca
com as fronteiras impostas pelo mesmo sistema que a gera. O sistema precisa
de mercados cada vez mais abertos e mais amplos tanto
quanto os pulmões precisam de ar e, ao mesmo tempo, requer que estejam no
chão, como estão, os preços das matérias primas e da força de trabalho
humana. O sistema fala em nome de todos, dirige a todos suas imperiosas
ordens de consumo, entre todos espalha a febre compradora; mas não tem
jeito: para quase todo o mundo esta aventura começa e termina na telinha da
TV. A maioria, que contrai dívidas para ter coisas, termina tendo apenas
dívidas para pagar suas dívidas que geram novas dívidas, e acaba consumindo
fantasias que, às vezes, materializa cometendo delitos. O direito ao
desperdício, privilégio de poucos, afirma ser a liberdade de todos.
Dize-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa as
flores dormirem, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores
estão expostas à luz contínua, para fazer com que cresçam mais rapidamente.
Nas fábricas de ovos, a noite também está proibida para as galinhas. E as
pessoas estão condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela
angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas
é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem metade dos
calmantes, ansiolíticos e demais drogas químicas que são vendidas legalmente
no mundo; e mais da metade das drogas proibidas que são vendidas
ilegalmente, o que não é uma coisinha à-toa quando se leva em conta que os
EUA contam com apenas cinco por cento da população mundial.
(...)
continua...

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